O Bordado Filé pode ser considerado uma forma de renda de agulha de acordo com alguns teóricos do tema, devido a sua estrutura, é uma técnica artesanal que tem suas raízes profundamente entrelaçadas com a história e cultura de alguns estados, mas o Estado de Alagoas se destaca devido ao trabalho de instituições que se dedicaram a colocar o bordado filé no mapa de Indicações Geográficas de Procedência, como o caso do INBORDAL, que falaremos adiante.

Os registros mais antigos do bordado filé são datados do século XVI e há registros de sua chegada no Brasil durante a época colonial, o bordado utiliza uma base de rede ou tecido, onde habilidosamente são confeccionados diversos pontos, cada um com nomes singulares, refletindo não apenas técnicas meticulosas, mas também uma rica herança cultural. O nome “filé” tem origens francesas, denotando a rede de fios atados em nós sobre a qual o bordado é elaborado.

Ao longo dos séculos, o Bordado Filé não apenas sobreviveu, mas prosperou nas comunidades pesqueiras de Alagoas. Ele não apenas se tornou um meio de subsistência para muitas famílias, mas também floresceu como uma arte distintamente reconhecida e respeitada, tanto dentro quanto fora do Brasil. Em particular, a região das Lagoas Mundaú-Manguaba emergiu como um epicentro dessa tradição, sendo o lar da maior produção de bordado no estado de Alagoas.

A técnica intricada do Bordado Filé encontrou uma casa acolhedora na cultura local e nas mãos hábeis das “filezeiras”, mulheres rendeiras que desempenham um papel fundamental no folclore brasileiro. Desde os tempos coloniais, essas mulheres transmitiram seu conhecimento, criando assim uma tradição que ecoa através das gerações. A prática desse tipo de bordado se tornou uma parte vital do patrimônio cultural imaterial de Alagoas,  também desempenhou um papel significativo na economia local, especialmente com o crescimento do turismo na região.

O Reconhecimento Oficial: Patrimônio Cultural e Indicação de Procedência

A importância do Bordado Filé na cultura alagoana é tão profunda que, em reconhecimento a essa herança, foi oficialmente designado como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado. Esse título honra a habilidade artística e a tradição passada de geração em geração e representa um compromisso com a preservação e celebração desta forma de expressão tão singular.

Além disso, a IG (Indicação Geográfica) Região das Lagoas Mundaú-Manguaba foi concedida em 2016. Esta Indicação de Procedência é um testemunho da autenticidade e qualidade do Bordado Filé produzido nesta região, é um marco que protege os produtores locais e garante que apenas produtos genuínos sejam reconhecidos como parte dessa tradição.

O Papel da INBORDAL e o Reconhecimento no 5º Prêmio Sebrae TOP 100

O Instituto Bordado Filé da Região das Lagoas Mundaú-Manguaba (INBORDAL) é uma unidade produtiva que tem desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento e na preservação do Bordado Filé. Ao longo dos anos, o INBORDAL tem trabalhado incansavelmente para proteger a tradição do Bordado Filé, garantindo que os produtos confeccionados sigam os mais altos padrões de qualidade. Este esforço fortaleceu a prática do Bordado Filé e promoveu ativamente essa arte tradicional para novas fronteiras.

Em 2022, esse compromisso foi reconhecido quando duas de suas artesãs da INBORDAL, Beatriz dos Santos e Maria Cícera Moura, foram premiadas no 5º Prêmio Sebrae TOP 100 – premiação que reconhece as 100 melhores unidades produtivas de artesanato do Brasil – Beatriz, nascida no bairro do Pontal da Barra, aprendeu as complexidades do Bordado Filé aos 6 anos com sua irmã mais velha. Da mesma forma, Maria Cícera Moura, natural de Marechal Deodoro, começou a fazer redes aos 17 anos com sua mãe, antes de se dedicar ao Bordado Filé. Essas mulheres personificam a habilidade e a dedicação necessárias para manter viva a tradição do Bordado Filé, são testemunhas vivas da maneira como essa arte se entrelaça com a história pessoal e comunitária.

O Futuro do Bordado Filé: Preservação, Inovação e Reconhecimento Contínuo

O Bordado Filé, com sua rica história e significado cultural é apenas uma forma de arte,  uma parte vital do patrimônio de Alagoas. Enquanto celebramos as conquistas do passado e o reconhecimento merecido, também olhamos para o futuro com um compromisso renovado de preservar, inovar e promover essa tradição.

A preservação do Bordado Filé é essencial para garantir que as próximas gerações continuem a se beneficiar dessa herança cultural única. Ao mesmo tempo, a inovação desempenha um papel crucial em manter a prática relevante e atraente para novos públicos. Isso pode envolver a exploração de novos designs, técnicas e a colaborações com designers para criar peças que mesclam a tradição com a contemporaneidade.

Além disso, o reconhecimento do Bordado Filé, tanto a nível nacional quanto internacional, é fundamental para expandir o alcance dessa tradição. O título de Patrimônio Cultural Imaterial de Alagoas e a Indicação de Procedência são apenas os primeiros passos para garantir que o Bordado Filé seja apreciado e valorizado em todo o mundo. Ao contar a história do Bordado Filé, celebrar seus artesãos talentosos e promover sua autenticidade, estamos não apenas preservando uma tradição, mas também enriquecendo o tecido cultural de nossa sociedade.

Bordado Filé emerge como um testemunho vivo da habilidade, criatividade e resiliência das filezeiras. Em cada ponto meticuloso, encontramos uma conexão com o passado e uma promessa para o futuro, uma promessa de manter viva essa tradição preciosa para as gerações que virão. Assim, o Bordado Filé permanece não apenas como uma arte, mas como um legado, uma herança que enriquece nosso presente e ilumina nosso caminho para o amanhã.

 

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Fonte:

ARTESOL: Artesanato Solidário: Instituto do Bordado de Filé: Inbordal. 

FELIPPI, Vera. Decifrando Rendas: processos, técnicas e história. Porto Alegre : Ed. da Autora. 2021.

SEBRAE. Bordado Filé. 2022.

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