Os últimos fatos ocorridos na Região Norte do Brasil chocaram a sociedade. Seca ao extremo, queimadas, muita fumaça em grandes cidades, morte de centenas de botos e outros animais, e muitas cenas dramáticas relacionadas a impactos ambientais. Mas o que isso tem a ver com artesanato? Absolutamente tudo.

Vamos focar aqui na seca dos rios, principalmente um dos mais importantes da região, o Rio Solimões. Esse rio é usado para conectar cidades e comunidades, principalmente para o escoamento de produtos e acesso à direitos básicos. Os rios na Região Norte são como estradas nas demais regiões do Brasil, então imagine se essas estradas fossem reduzidas, e onde passavam caminhões estão passando apenas bicicletas? Algo similar acontece quando se atinge níveis tão alarmante da seca do rio. As pessoas que moram nessas regiões estão ficando cada vez mais ilhadas e tendo uma drástica redução em sua qualidade vida.

placa que ilustra o nivel do rio solimões
Placa que ilustra o nivel do rio solimões – (Foto: Antônio Lima/Secom, 2023)

Sustentabilidade e produção do artesanato

Sabe-se que na Região Norte encontramos uma grande concentração de artesãos que manejam a natureza a partir de um conhecimento profundo etnoecológico, entendendo os limites que ela tem e seu tempo de regeneração. Com isso, eles dependem diretamente da manutenção ambiental sustentável para produzirem seus artesanatos. A seca não só os isola territorialmente, mas desestrutura esse equilíbrio ecológico, afetando diretamente a produção material e imaterial brasileira. A matéria prima fica escassa e a produção artesanal é interrompida.

artesaos produzindo pecas de ceramica
Artesãos produzindo peças de cerâmica – (Foto Laura Landau, 2020)

 

Peças de artesanato feitas com matéria prima manejada
Peças de artesanato feitas com matéria prima manejada – (Foto: Andre Barbosa/Sebrae, 2022)

Outra grande problemática é a dificuldade de escoamento daqueles que ainda conseguem produzir. Com a redução do curso de água, o transporte fica extremamente limitado e caro, impossibilitando que o frete seja viável. Também interrompe a chegada de lojistas e compradores do mercado em diversas regiões, perdendo assim grande número de vendas.

artesão indo manejar materia prima na mata
Artesão indo manejar matéria prima na mata para artesanato – (foto: Laura Landau, 2020)

O Rio Solimões enfrenta sua pior seca em 121 anos, iniciada em 1902. Dos 62 municípios do estado do Amazonas, 59 estão em situação de emergência, 557 mil pessoas afetadas (equivalente a 139 mil famílias). Com o isolamento das cidades muitas pessoas estão sem água potável, alimentos, acesso à hospitais, escolas e outros direitos básico. Em Manaus, diversas empresas decretaram férias coletivas por não terem mais como manter seu funcionamento.

Para valorizar ainda mais o artesanato sabemos que devemos respeitar a natureza e colocar o setor no debate sobre crise climática. Com isso podemos garantir a sustentabilidade das práticas e a qualidade de vida do artesão e do povo brasileiro. O artesanato tem muito o que nos ensinar para uma guinada sustentável e uma bioeconomia justa. Agora é hora de entrarmos em cena.

Saiba mais sobre o artesanato brasileiro.

Fonte:

d24am.com

oglobo

LANDAU, Laura. Os Hibridismos do Artesanato Quilombola do Rio Andirá, Amazonas: Análise da rede sociotécnica à luz dos saberes locais e etnoecológicos. 224 f. Dissertação (Mestrado em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia) – Universidade Federal do Amazonas. Manaus (AM), 2020.

SEBRAE